sexta-feira, 28 de dezembro de 2012




Lá vai ele
findando, assim como o sol no escurecer do dia,
escorrendo tal qual um punhado de areia entre os dedos;

Lá vem ele
regado de novos ensejos,
cheinho de agridoces, verdes e auspiciosas esperanças;

Lá vem ele
Incompleto, esperando a sua mão, o seu riso vivo,
para te seguir;

Lá vem ele
de novo,
aguardando você,
com coragem, coração e anseios novos,
pra ser feliz.

Feliz ano todo!

Thai Pinheiro

Foto: weheartit

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012



"Eu espero que a vida te surpreenda e que você não se prenda, não se acanhe, não duvide. Porque parte das coisas boas vem das lutas, mas a outra parte vem sem avisar. Eu desejo que os dias te peguem desprevenido, desajeitado, despreocupado.  Afinal, o que não foi programado também funciona, nem toda ação inesperada merece ser descartada e algo não planejado pode vingar.
A regra às vezes é não ter regra. E via de regra, funciona!"
Fernanda Gaona

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012


A chuva e o frio
destemporais de Outono
não acanharam o jardim de sol
florescido em mim.

Não resisti, entreguei-me,
sou desatino,
sou primavera.

Thai Pinheiro

sábado, 1 de dezembro de 2012

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Amanheci pulsando saudades tardias,
Gotejando lembranças adormecidas,
Daquelas que nos olham de relance,
quando passamos pelas mesmas calçadas,
pela mesma praça, pela mesma música.
Há momentos que se esvaem cedo demais,
não nos dão o tempo do sim,
são os nãos varridos pelo vento,
quando me dei conta era apenas pesar:
sonhos amanhecidos;

Thai Pinheiro

Foto: Weheartit

sábado, 17 de novembro de 2012



Hoje dei uma trégua pro coração.
Esqueci as memórias doídas,
Coloquei as mágoas para quarar
Na varanda ensolarada;
Libertei meus olhos das prisões de ti.

Ah, hoje acordei mais leve
sem o saco de pedras
que carregava sobre a minha alma.
Amanheci primavera
com a boca abarrotada de sorrisos.

É tanta flor,
É tanto amor pelos meus olhos lacrimejantes,
que percorri a tarde vazia
cheia de vontades de mim.

Thai Pinheiro

Foto: weheartit

sábado, 10 de novembro de 2012



Meus pés de chuva
desconhecem as distâncias do sim.
Rastreiam o cheiro inebriante
de risos desagendados.
Correm em desalinho,
por um único caminho:
o do mar.

Thai Pinheiro

Foto: weheartit

domingo, 4 de novembro de 2012




As palavras se perderam


Meus devaneios verdes
Na ânsia e volúpia de possuir-te,
Perdem-se,
Envolvidos pelos teus véus
Esvoaçantes e libertos.

Escorregas entre meus dedos trêmulos e vacilantes,
Nunca te alcanço nesses labirintos frutíferos,
Que cismas repousar.
Por que te hesitas de mim,
Ó, palavra?

Vivo na peleja de ti.
Com olhos sempre prenhos,
E as mãos secas de versos.
Ando exausto desses encontros
Tardios, dolentes e incompletos.

Alvoreço em febre de ti,
Ponha-me no leito a delirar.
Sacia os meus lábios sedentos,
Complete minhas lacunas,
Ó, palavra!
Tenha fome de mim,
Deixe-me, por pena, um verso perverso.

Thai Pinheiro

sábado, 27 de outubro de 2012




Amor perfeito? Ouvi falar,
dizem que é flor,
Multicolor.
Só brota em jardins ensolarados,
bem regados e sorridentes.

No meu chão germinou begônias, margaridas
Jasmins cor de framboesa,
Mas, amor perfeito só no jardim ao lado.

É assim mesmo, só no jardim ao lado.

Com as margaridas 
faço bem me quer,
Mas o bem sempre me quis.

Thai Pinheiro

Foto: Weheartit

sexta-feira, 19 de outubro de 2012




Li o mar no seu olhar:
Voraz, profundo, cor de breu.

Em seus braços vi estrada,
Caminho a seguir, sentir.

Pelo seu riso de lua minguante
adormeci cobiçando o céu.

Por seu cheiro de sereno banhando o sol da tarde,
Amanheci brio, faminta por devaneios,
Tornei-me folha ao vento,
Sem receio solta ao tempo.
Preenchida, com veleidades de existir.

Thai Pinheiro

Foto: Getty Images

domingo, 23 de setembro de 2012















Sou planta carnívora
De folhas cor de sol
E espinhos agridoces,
Enraizada no ar, vivo
cercada por pedras
Desalinhadas.

Sugo da terra o fruto,
Como a sede,
Bebo a fome.

Sou:
De carne quando alvoreço,
De vento quando adormeço.

Tenho olhos de névoa,
Pés de chuva,
Sou vestígios de gente,
Fragmentos de tantos,
Um, quase tudo.
Eu,
Indefinível.

Thai Pinheiro

Foto: Wereartit

domingo, 16 de setembro de 2012




Achar o equilíbrio,
Repito, quase suplico, isso diariamente,
É quase um mantra:
Preciso achar o equilíbrio, achar o equilíbrio...
Mas como mensurar, balancear a dose do que se sente?
É o mesmo que tentar deter a água escorrendo entre os dedos
ou, Racionalizar usando a balança do coração.

Como equilibrar a avidez dos meus olhos e 
minha boca salivando por vida?
Minha desrazão não tem leis.
Acontece.
Desconhece a medida certa, o meio,
Caminha em desalinho.

Não sei existir comedido.
Renego a exatidão, sorvo devaneios.
Só me deixo entorpecer pelo cheiro inebriante da verdade, 
Sou moderada tal qual uma folha solta ao vento.

Thai Pinheiro

Foto: Wereartit

domingo, 9 de setembro de 2012



Estou preenchida de tantos vazios,
Há um desassossego ensurdecedor
pousado sobre mim.
Neste instante, tudo está desfocado,
Olho apenas para o fundo,
E o que vejo me apraz.

É meia noite, quase aurora,
Você ouve o canto dos pássaros?
Eu os ouço,
E o canto é tão raro, tão nítido, tão profundo,
Que me deixo levar pelas asas

Thai Pinheiro

terça-feira, 4 de setembro de 2012


Queria que este dia durasse,
Tal qual o tempo do mar.
Nada de especial acontece lá fora,
O noticiário se repete, como um disco riscado,
Mas, aqui dentro prosperam jasmins.

Saio às ruas e nenhuma pedra se moveu,
Entretanto, sinto. Sim, eu sinto, como se todos riem pra mim,
Um riso de dentro, um riso plácido,
Não pela minha roupagem, que é a mesma de outrora,
Mas porque alcançam minha alma,
Que saltita e também sorri,
Retribuindo ao mundo gentilezas.

A vida tem sido tecelã tão generosa,
Ladrilhando meu caminho com begônias lilases,
Assoalhando meu chão de esperanças e
Chovendo sol na minha varanda,
Por isso, fecho olhos, peço que dure
 e agradeço.

Thai Pinheiro

Foto: Globo Imagens

sexta-feira, 24 de agosto de 2012




Não deixarei espaço no armário
para as roupas velhas.

Tirei o sapato que apertava,
Joguei fora o lixo
que se acumulava na entrada da porta,
Abri as cortinas e
contemplei a borboleta
multicolor que pairava
sobre o girassol gotejado de aurora.

Estou tirando a poeira das emoções.
Esticando os braços,
Para alcançar a vida.
Ando minimizando as distâncias de mim,
Preenchendo-me de incertezas,
Quarando a dor no sol.

Amanhecendo,
por manhãs, tardes e noites
cardioinstigante.

Thai Pinheiro

Foto: Weheartit

sábado, 18 de agosto de 2012



"Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade"

Chico Buarque

Foto: Weheartit

sábado, 11 de agosto de 2012






Acordei em busca de resquícios,
Percorri o passado sentada sobre a cadeira de forro azul,
Olhando as fotos, relendo cartas tornei-me andarilho,
Viajei com os pés descalços
por tantos risos, abraços, laços...

Fiz a via crúcis de nós, só,
Mas, nenhuma mágoa, nenhum espinho perfurava o pulso,
o gosto desta caminhada era leve,
Havia cheiro de lembranças risonhas
Era como ouvir o som do mar dentro de uma concha.

Hoje, recordar você é uma carícia à alma,
É um afago doce e fresco ao coração.

Thai Pinheiro

Foto: Weheartit

sábado, 4 de agosto de 2012




Não se engane com meu olhar de sol entardecido,
Sou sol nascente, vento que sobe escadas.
Componho a rosa tal qual o espinho,
sim, eu não sou as pétalas.

Não se engane com meu sorriso de aurora
e minhas mãos dulcificadas,
Sou tempestade, que cai no meio da tarde
e engana o chão seco com promessas.

Não se engane
meu coração é mordaz,
ele é de chuva e corre, corre
ébrio pelo horizonte lilás.

Não se deslumbre...
Sou um cão faminto uivando na janela.

Thai Pinheiro


Foto: Wereartit

segunda-feira, 30 de julho de 2012




Era breu
Era pedra
Maré baixa
Jardim sem chuva
árvore sem verde
Era eu

Daí tu veio
Todo,
sem arreios,
Raposa faminta,
Olhos desnudos,
Cavou bem fundo
Água nasceu

Brotou em mim a fonte,
Desaguou cachoeira
Janeiros rubi,
Dezembros framboesa,
Floresceu.


Thai Pinheiro

quinta-feira, 26 de julho de 2012





Eu sei, mas não devia
Marina Colasanti

"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma."

sexta-feira, 20 de julho de 2012



Que Deus dê ao seu coração o acalento
necessário para que ele respire mais leve e sorridente,
Que a aurora diária traga consigo respingos doces
de esperança,
Que, por manhãs, tardes e noites você acredite:
- Posso ser melhor no segundo que segue, para mim e pro mundo.
Que o brilho dos seus olhos não se acanhe por mais que o breu prevaleça,
Que os sonhos não passem desapercebidos e sejam rejuvenescidos diariamente,
Que a chuva caia em seu jardim, assim como o sol, florejando a alma de claridade,
Que para cada lágrima derramada brote no terreno, que já foi árido, um momento de alegria,
E, que a sabedoria de enxergar nas gotas de orvalho o semear de longas e belas plantações te oriente rumo a preciosidade de ser.

Thai Pinheiro

domingo, 15 de julho de 2012



Bateu a porta como se nada tivesse deixado para trás.
Antes, apanhara apressadamente as roupas no armário,
amassando uma a uma na mala de couro desbotada,
Não soou uma palavra, não derramou nenhuma lágrima salgada.
Pegou as chaves, amontoou os livros sobre os braços,
Rasgou-me inteira por dentro sem, ao menos, tocar-me.
Se quer olhou-me, perdeu a memória de mim.
Junto às roupas amassadas levara tudo, risos, sonhos, vontades...
Foi...
Como se o ontem fosse rabisco apagado pelo vento
soprado na noite passada.
Foi...
Como se no coração o nunca tivesse tocado.

Thai Pinheiro

quarta-feira, 11 de julho de 2012




Não sei se foi a chuva que caiu as 7:45
Ou o sabor delicado do café meio amargo,
Não sei se foi o banho frio
Ou o tímido sol, que molhado sorria.
Não sei se foi o poema desjejum do dia
Ou a difícil rotina de existir.
Não sei se foi a bagunça dos livros no meu quarto
Ou a ventania impregnada de lembranças.
Só sei, que alvoreci assim,
Um mar de resquícios,
Um horizonte de saudade.

Thai Pinheiro

quarta-feira, 4 de julho de 2012



Nossos descaminhos,
Relógios atrasados e
Passos adiantados
Desagendaram nossos risos.

A primavera chegou.
Não florimos.
A valsa tocou.
Não dançamos.

Thai Pinheiro

Foto: Taciane Pinheiro

sexta-feira, 22 de junho de 2012



Como uma árvore de outono,
Que se desfaz da roupagem
Para vestir-se outra vez no inverno
De verdes e auspiciosas folhas,
Eu me desnudarei
De tudo que trava a garganta
E aperta o peito,
De tudo que nubla
O meu céu
E traz cinza às minhas manhãs.
Farei dias límpidos
Onde houver chuva e frio.
Queimarei com galhos e velas
As roupas velhas da gaveta.
Lavarei as mãos e
Vestirei a alma
De primavera.

Thai Pinheiro


Foto: Getty Images

sábado, 16 de junho de 2012


"Às vezes, na estranha tentativa de nos defendermos da suposta visita da dor, soltamos os cães. Apagamos as luzes. Fechamos as cortinas. Trancamos as portas com chaves, cadeados e medos. Ficamos quietinhos, poucos movimentos, nesse lugar escuro e pouco arejado, pra vida não desconfiar que estamos em casa. A encrenca é que, ao nos protegermos tanto da possibilidade da dor, acabamos nos protegendo também da possibilidade de lindas alegrias. Impossível saber o que a vida pode nos trazer a qualquer instante, não há como adivinhar se fugirmos do contato com ela, se não abrirmos a porta. Não há como adivinhar e, se é isso que nos assusta tanto, é isso também que nos dá esperança.

É maravilhoso quando conseguimos soltar um pouco o nosso medo e passamos a desfrutar a preciosa oportunidade de viver com o coração aberto, capaz de sentir a textura de cada experiência, no tempo de cada uma. Sem estarmos enclausurados em nós mesmos, é certo que aumentamos as chances de sentir um monte de coisas, agradáveis ou não, mas o melhor de tudo, é que aumentamos as chances de sentir que estamos vivos. Podemos demorar bastante para perceber o óbvio: coração fechado já é dor, por natureza, e não garante nada, além de aperto e emoções mofadas. Como bem disse Virginia Woolf, “não se pode ter paz evitando a vida.”



Ana Jácomo

Foto: Getty Imagens

sábado, 9 de junho de 2012




De cabelos presos eu vim,
Alentada pelo vento,
Que ao meu ritmo dançava.

Atravessei descalça a avenida,
Sem olhar para trás.
Desapegada do ontem,
Prenha de amanhã,
Sedenta por sonhos de hoje.

Ando com agudezas de sentir,
O raso não me apetece.
Não quero a pele ou os pelos,
Quero o latejar do pulso,
O avesso da alma,
Cobiço meus versos mais viscerais.

É o fundo, o aturado, o vivo,
Que emergem estrelas do meu olhar.
São as raízes densas e não os frutos,
Que me alimentam.

Thai Pinheiro

domingo, 3 de junho de 2012




"Quando eu deixei de olhar tão ansiosamente para o que me faltava e passei a olhar com gentileza para o que eu tinha, descobri que, de verdade, há muito mais a agradecer do que a pedir."

Ana Jácomo

sábado, 26 de maio de 2012





Ser

Os respingos da chuva de ontem
ainda permanecem no vidro embaçado,
a janela é a mesma,
as margaridas também.

Antigamente, havia árvores
de caules verde sumo,
mergulhadas num capim
rasteiro e bordadas
por flores desbotadas
de coração amarelo.

Hoje, um girassol ávido por chuva
engana-se em meio
aos escombros da casa antiga,
enquanto as margaridas
amargas riem da vida.

E, eu ali, juntando retalhos,
costurando o passado,
invejando o girassol
que cresce na terra de sal.

Vivo, tateando na penumbra
do agora, que sem piedade
brota, despetalando-me.
Ser, é mesmo, para os fortes.

Thai Pinheiro

domingo, 20 de maio de 2012




“Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água no rio onde tantas vezes mergulhamos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes paramos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhamos o céu e interrogamos o seu sentido. Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos.
E a tua voz ouço-a agora, vinda de longe, como o som do mar imaginado dentro de um búzio. Vejo-te através da espuma quebrada na areia das praias, num mar de Setembro, com cheiro a algas e a iodo. E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas ilusões de que tudo podia ser meu pra sempre.”


Miguel Sousa Tavares 

terça-feira, 15 de maio de 2012



Quero a simplicidade de sentir
De sofrer miudinho, 
Bem quietinho,
Sem ao menos sussurrar
Acordar descabelada,
Desapegada das sementes de certezas
Ancorada nas improbabilidades da areia da vida.

Quero a simplicidade de sorrir,
De dentro pra fora, 
Num fluxo, refluxo de emoções
Tão minhas e reais,
Tão minhas e banais.

Quero a naturalidade de sonhar
Sem os arcabouços pintados por outros,
Sonhos meus, simples, meus.

Quero a sutileza de viver
Florescer toda manhã.

Thai Pinheiro

quinta-feira, 10 de maio de 2012



Tenho costume antigo:
Cultivo gritos,
Que ressoam,
Escandalosamente silenciosos,
Dentre as paredes
Incolores de mim.

Não, não olhe assim,
com esses olhos anoitecidos,
Que me prendem neste quarto.

Só ouça-me:
Careço, que
Apare minhas asas.

Thai Pinheiro

quinta-feira, 3 de maio de 2012




Enquanto você respira pateticamente,
Eu sopro balões, e,
Bato as asas:
Sem rumo,
Sem relógio,
Entre fendas.

Há tanta sede
de ar,
Mar.

Enquanto seu pulso palpita,
Meu coração sangra e
Samba na avenida
Desnudo,
Ruivo,
Vivo.



Thai Pinheiro