domingo, 23 de setembro de 2012















Sou planta carnívora
De folhas cor de sol
E espinhos agridoces,
Enraizada no ar, vivo
cercada por pedras
Desalinhadas.

Sugo da terra o fruto,
Como a sede,
Bebo a fome.

Sou:
De carne quando alvoreço,
De vento quando adormeço.

Tenho olhos de névoa,
Pés de chuva,
Sou vestígios de gente,
Fragmentos de tantos,
Um, quase tudo.
Eu,
Indefinível.

Thai Pinheiro

Foto: Wereartit

domingo, 16 de setembro de 2012




Achar o equilíbrio,
Repito, quase suplico, isso diariamente,
É quase um mantra:
Preciso achar o equilíbrio, achar o equilíbrio...
Mas como mensurar, balancear a dose do que se sente?
É o mesmo que tentar deter a água escorrendo entre os dedos
ou, Racionalizar usando a balança do coração.

Como equilibrar a avidez dos meus olhos e 
minha boca salivando por vida?
Minha desrazão não tem leis.
Acontece.
Desconhece a medida certa, o meio,
Caminha em desalinho.

Não sei existir comedido.
Renego a exatidão, sorvo devaneios.
Só me deixo entorpecer pelo cheiro inebriante da verdade, 
Sou moderada tal qual uma folha solta ao vento.

Thai Pinheiro

Foto: Wereartit

domingo, 9 de setembro de 2012



Estou preenchida de tantos vazios,
Há um desassossego ensurdecedor
pousado sobre mim.
Neste instante, tudo está desfocado,
Olho apenas para o fundo,
E o que vejo me apraz.

É meia noite, quase aurora,
Você ouve o canto dos pássaros?
Eu os ouço,
E o canto é tão raro, tão nítido, tão profundo,
Que me deixo levar pelas asas

Thai Pinheiro

terça-feira, 4 de setembro de 2012


Queria que este dia durasse,
Tal qual o tempo do mar.
Nada de especial acontece lá fora,
O noticiário se repete, como um disco riscado,
Mas, aqui dentro prosperam jasmins.

Saio às ruas e nenhuma pedra se moveu,
Entretanto, sinto. Sim, eu sinto, como se todos riem pra mim,
Um riso de dentro, um riso plácido,
Não pela minha roupagem, que é a mesma de outrora,
Mas porque alcançam minha alma,
Que saltita e também sorri,
Retribuindo ao mundo gentilezas.

A vida tem sido tecelã tão generosa,
Ladrilhando meu caminho com begônias lilases,
Assoalhando meu chão de esperanças e
Chovendo sol na minha varanda,
Por isso, fecho olhos, peço que dure
 e agradeço.

Thai Pinheiro

Foto: Globo Imagens