sexta-feira, 30 de março de 2012


“Mas o que percebo, é que a alegria que mora em mim clama por vida, não somente pelo sossego; clama pelo dinamismo, pelas mudanças, pela sobriedade, pela esperança. O que há de irremediável não se cura com placebos. Se eu rejeito é porque não quero. Se eu recebo é porque já participa de algo aqui dentro. Minhas ambições são apenas estar com a roupa adequada para quando eu sumir nesta estrada, nunca sentir que minha intuição e o meu coração estão desagasalhados...”

Marla de Queiroz

Foto: Weheartit

quinta-feira, 29 de março de 2012















"Por viver muitos anos dentro do mato
moda ave
O menino pegou um olhar de pássaro –
Contraiu visão Fontana.
Por forma que ele enxergava as coisas
por igual
como os pássaros enxergam.
As coisas ainda inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra.
E tal.
As palavras eram livres de gramáticas e
podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar às pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
E, se quisesse caber em uma abelha, era
só abrir a palavra abelha e entrar dentro
dela.
Como se fosse a infância da língua."

Manoel de Barros

Foto: Getty Images

quarta-feira, 28 de março de 2012


De repente, a vida parou,
O Céu congelou,
O mar seco ficou,
O sol de outrora não vingou.

A névoa transbordava,
na taça vazia.
Nenhum tic tac se ouvia,
Apenas o sussurro da alma
Que no inverno sofria
Faminta, dizia:
Socorro, quase morro!
Estou subalimentada de amor

Thai Pinheiro


Foto: Getty Images

sábado, 24 de março de 2012



Algumas lembranças
Corroem o fígado,
Esmagam a alma,
Abrem feridas,
Travestidas
de flores murchas

Acendem velas
Onde não há mais luto,
Só resta poeira
sobre os vasos secos
da estante.

Certos resquícios
Deveriam permanecer
Naufragados,
Num oceano longinquo
Escuro,
e sem chão.

Mas, demoram-se,
Persistem em meio
aos escombros.
São cicatrizes crônicas,
Que tornam-me refém, 
do ontem sido.

Thai Pinheiro

sexta-feira, 16 de março de 2012















Desamparei as panelas,
Alarguei as janelas.
A roupa seca no varal, 
enquanto crio asas.

Cultivei gritos no jardim, e,
Tornei-me videira,
desmurando mundos.

Desdobro-me,
em sucessivos devaneios:
Sou a vela, 
Sou o vento,
Sou o mar.

Estrada que não se mede,
Caminhos que não se segue,
Sou a seta, em alerta.

As vísceras são a minha melhor parte,
É pelo avesso, que me reconheço.

Thai Pinheiro

Foto: Weheartit

sexta-feira, 9 de março de 2012


É tempo de primavera.
Há chuva e frio lá fora
Mas, aqui dentro, o jardim floresce
A brisa não padece
E, a noite, sempre amanhece
Alvoreço e adormeço em temporadas de amor.

Thai Pinheiro

domingo, 4 de março de 2012


“Eu gosto do estranho, do incomum.
Gosto daquilo que confunde, que permite diferentes interpretações,
que fica nas entrelinhas.
Gosto do que aguça a curiosidade, que provoca.
Gosto do sarcástico, o normal me cansa, entedia…
Queriam-me quotidiana, fútil e tributável ?
Impossível, eu complico mesmo. É mais gostoso assim.”

Martha Medeiros

Foto: Weheartit

quinta-feira, 1 de março de 2012












Já fomos mar
Uma imensidão azul de desejos
Fitados pela ânsia de risos descompromissados
Caminhos desalinhados
Olhares famintos e vísceras expostas.
Nós, os nós. A sós?

Já fomos mar
Embriagados pelo remar, pensávamos amar 
Barco sem vela, desancorados
Agora, rio limitado, delimitado pelas pedras,
Envoltos por sonhos verdes.

Já fomos mar
Desaguávamos ilegais, imorais, informais
Éramos dois intervalos sedentos,
Ávidos por vontades urgentes,
Amor?

Já fomos mar
Hoje, seguimos, in-acabados, marcados
Somos vestígios de saudade.

Thai Pinheiro