domingo, 11 de setembro de 2016




Acordo todas as manhãs perlaborando desejos de esquecimento.
Buscando antídotos, que mais parecem placebos,
pois não fazem efeito, eu continuo febril.
Ardendo em memórias.
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Thai Pinheiro


Foto: Alessandra Sánchez / arquivo pessoal

sábado, 10 de setembro de 2016



E só dessa vez, ela disse:
- não regarei as expectativas.
Fez promessa,
daquelas que só se quebra,
quando o apreço, incontido,
esvair como água entre os dedos.

Só dessa vez,
prometeu não sonhar,
nem fantasiar futuros
e segurar o mar,
que corre desmedido
do lado avesso,
enquanto o seu riso,
escancarado
forja uma tarde de brisa e rede.

E só dessa vez, ela disse,
- vou colocar apenas as pontas dos pés na água,
tomar metade do sorvete de passas ao rum,
não me lambuzar com a manga doce,
nem dormir em meio a tarde chuvosa,
tampouco aguar a boca de saudade.
Só dessa vez...

Só dessa vez, ela disse,
- irei bebericar a superfície das coisas,
desviar os olhos arregalados de encanto,
amansar o coração na garganta,
quebrar a linha da pipa
antes que beije o céu.

Só dessa vez, ela disse,
- vou conter a mim,
pois há mares que invocam o mergulho,
mas há outros que afogam o marujo.

Só dessa vez,
só dessa vez,
sussurrou baixinho:
- vou ser apenas outono,
com fome e desejos
de primavera,
só dessa vez.

Thai Pinheiro


Imagem: Google imagens