terça-feira, 30 de janeiro de 2018




Meia tonelada de até breve,
talvez, amor,
abraços,
beijos,
quiçá, saudade,

Meia tonelada de sonhos partilhados,
afagos desencontrados,
notícias tristes,
poemas,
uma letra inteira de Laura Pausini,
talvez, cartas de cobranças,
ou postais de alguma cidade.

Meia tonelada de endereços,
de vontades, chegadas
e, quiça, partidas,
corações partidos,
remetentes sem destino,
destinatários sem encontro.

Meia tonelada de papel,
letras talhadas com algum valor,
talvez, com dor,
mas esquecidas ao léu,
sem o lacrimejar da menina no meio da tarde.

Meia tonelada de papel,
talvez, um coração desenhado com lápis de cera,
meio torto, ao lado de carícias grifadas em tinta azul.

Meia tonelada de papel,
um carteiro em desofício
e palavras vãs veladas em plástico,
entregues ao tempo.

<http://www.surrealista.com.br/2018/01/policia-encontra-meia-tonelada-de-cartas-nunca-entregues-em-garagem-de-carteiro/>

Thai Pinheiro

domingo, 21 de janeiro de 2018




Eu vi um passarinho,
sem rimas e em desalinho,
cantando miudinho
versos que alumbram flor.

Seu assobio suave
lembra uma tarde na rede,
cheia de sede, 
mas sem urgência, nem tempo a saciar.

Eu vi um passarinho,
pousando num ninho
trançado sobre uma árvore de sol,
enraizada num terreno regado a infinitos.

Seu cheiro tem essência
adocicada com pimenta,
que deixa na pele, a cada toque,
um rastro embebido em vontade de ficar, morar...

Eu vi um passarinho,
e meus olhos salivaram em encanto,
pois não imaginavam, no deserto, tal miragem avistar.

Ele tem nome de rei
e como se impusesse uma lei,
fez o meu coração noviço
em solavancos e arrepios transbordar.

Eu vi um passarinho,
acordando a primavera
e abrindo a boca do verbo sentir,
em dentes, gostos, gestos e risos.


Thai Pinheiro


Foto: Thaiane Pinheiro