terça-feira, 15 de maio de 2018




Vou desafiar o senso comum,
a palavra mainha pode até ser igual,
mas a minha é incomum.

No abraço dela, a tristeza morre de inanição,
O seu sorriso é como o sol se abrindo na imensidão.
Mesmo em dias nublados e frios, 
o seu colo macio parece um colcha persa,
tecida em um emaranhado de fios,
aquece, acarinha e não aperta.

Não há um cheiro equivalente,
todas as flores do mundo tentaram,
mas não há perfume tão doce, suave e perene.
Ela parece feita de magia,
não canso de amá-la em nenhum segundo dos dias.

Tudo dela é brotado do coração,
uma imensidão de afetos,
que não caberia nesses versos,
E em nenhum poema cheio de emoção.

Sigo agradecendo ao universo,
pois se há privilégio no mundo,
o meu veio abundante e belo.

Ainda que pedisse a todas as estrelas cadentes,
mil vidas não seria o suficiente,
para tecer todas as preces,
suplicando que a eternidade mainha tivesse. 


Thai Pinheiro


Imagem: Thaiane Pinheiro

terça-feira, 30 de janeiro de 2018




Meia tonelada de até breve,
talvez, amor,
abraços,
beijos,
quiçá, saudade,

Meia tonelada de sonhos partilhados,
afagos desencontrados,
notícias tristes,
poemas,
uma letra inteira de Laura Pausini,
talvez, cartas de cobranças,
ou postais de alguma cidade.

Meia tonelada de endereços,
de vontades, chegadas
e, quiça, partidas,
corações partidos,
remetentes sem destino,
destinatários sem encontro.

Meia tonelada de papel,
letras talhadas com algum valor,
talvez, com dor,
mas esquecidas ao léu,
sem o lacrimejar da menina no meio da tarde.

Meia tonelada de papel,
talvez, um coração desenhado com lápis de cera,
meio torto, ao lado de carícias grifadas em tinta azul.

Meia tonelada de papel,
um carteiro em desofício
e palavras vãs veladas em plástico,
entregues ao tempo.

<http://www.surrealista.com.br/2018/01/policia-encontra-meia-tonelada-de-cartas-nunca-entregues-em-garagem-de-carteiro/>

Thai Pinheiro

domingo, 21 de janeiro de 2018




Eu vi um passarinho,
sem rimas e em desalinho,
cantando miudinho
versos que alumbram flor.

Seu assobio suave
lembra uma tarde na rede,
cheia de sede, 
mas sem urgência, nem tempo a saciar.

Eu vi um passarinho,
pousando num ninho
trançado sobre uma árvore de sol,
enraizada num terreno regado a infinitos.

Seu cheiro tem essência
adocicada com pimenta,
que deixa na pele, a cada toque,
um rastro embebido em vontade de ficar, morar...

Eu vi um passarinho,
e meus olhos salivaram em encanto,
pois não imaginavam, no deserto, tal miragem avistar.

Ele tem nome de rei
e como se impusesse uma lei,
fez o meu coração noviço
em solavancos e arrepios transbordar.

Eu vi um passarinho,
acordando a primavera
e abrindo a boca do verbo sentir,
em dentes, gostos, gestos e risos.


Thai Pinheiro


Foto: Thaiane Pinheiro