segunda-feira, 28 de outubro de 2013


 
Ouvi alguém dizer,
num momento qualquer,
que somos compostos por 70% de água.
Daí pensei, e os meus outros 30%?

Será que são os risos gargalhados,
que de tão profundos não consigo esquecer?
Ou serão as lembranças das borboletas
que pousaram no meu jardim nas últimas 30 primaveras?

Será que são os cheiros que exalavam da cozinha de minha avó na minha feliz infância?
Ou os outros cheiros deliciosos que brotam da minha mãe diariamente?

Seriam os olhares que cruzaram o meu caminho por invernos, outonos e novembros?
Ou serão os livros lidos?
Os poemas escritos?
As lágrimas não derramadas?

Seriam os beijos, com gosto de sol, que me amanheceram despretensiosamente?
Ou os abraços, de tantos braços, recebidos de janeiro a janeiro, que em muitos momentos foram afagos na alma?

Será que é a fé que as vezes parece imensurável e, em alguns momentos, quando duvido, sinto pesar em meu peito?

O que são os outros 30%?

São as dúvidas?
As respostas?
As quase certezas?

Será que posso medir cada devaneio?
Cada momento de coragem?

30%? Tão pouco para tudo.

Há sempre uma explicação exata para os realistas,
pois o concreto é fácil medir.
Mas como mensurar minha alma, meu rio, meu mar?

Prefiro refazer a conta e devanear tal qual Oswaldo Montenegro,
acreditando, duvidando, sonhando,
que metade de mim é amor e os outros 50% também.

Thai Pinheiro

Imagem: Weheartit