sexta-feira, 22 de junho de 2012



Como uma árvore de outono,
Que se desfaz da roupagem
Para vestir-se outra vez no inverno
De verdes e auspiciosas folhas,
Eu me desnudarei
De tudo que trava a garganta
E aperta o peito,
De tudo que nubla
O meu céu
E traz cinza às minhas manhãs.
Farei dias límpidos
Onde houver chuva e frio.
Queimarei com galhos e velas
As roupas velhas da gaveta.
Lavarei as mãos e
Vestirei a alma
De primavera.

Thai Pinheiro


Foto: Getty Images

sábado, 16 de junho de 2012


"Às vezes, na estranha tentativa de nos defendermos da suposta visita da dor, soltamos os cães. Apagamos as luzes. Fechamos as cortinas. Trancamos as portas com chaves, cadeados e medos. Ficamos quietinhos, poucos movimentos, nesse lugar escuro e pouco arejado, pra vida não desconfiar que estamos em casa. A encrenca é que, ao nos protegermos tanto da possibilidade da dor, acabamos nos protegendo também da possibilidade de lindas alegrias. Impossível saber o que a vida pode nos trazer a qualquer instante, não há como adivinhar se fugirmos do contato com ela, se não abrirmos a porta. Não há como adivinhar e, se é isso que nos assusta tanto, é isso também que nos dá esperança.

É maravilhoso quando conseguimos soltar um pouco o nosso medo e passamos a desfrutar a preciosa oportunidade de viver com o coração aberto, capaz de sentir a textura de cada experiência, no tempo de cada uma. Sem estarmos enclausurados em nós mesmos, é certo que aumentamos as chances de sentir um monte de coisas, agradáveis ou não, mas o melhor de tudo, é que aumentamos as chances de sentir que estamos vivos. Podemos demorar bastante para perceber o óbvio: coração fechado já é dor, por natureza, e não garante nada, além de aperto e emoções mofadas. Como bem disse Virginia Woolf, “não se pode ter paz evitando a vida.”



Ana Jácomo

Foto: Getty Imagens

sábado, 9 de junho de 2012




De cabelos presos eu vim,
Alentada pelo vento,
Que ao meu ritmo dançava.

Atravessei descalça a avenida,
Sem olhar para trás.
Desapegada do ontem,
Prenha de amanhã,
Sedenta por sonhos de hoje.

Ando com agudezas de sentir,
O raso não me apetece.
Não quero a pele ou os pelos,
Quero o latejar do pulso,
O avesso da alma,
Cobiço meus versos mais viscerais.

É o fundo, o aturado, o vivo,
Que emergem estrelas do meu olhar.
São as raízes densas e não os frutos,
Que me alimentam.

Thai Pinheiro

domingo, 3 de junho de 2012




"Quando eu deixei de olhar tão ansiosamente para o que me faltava e passei a olhar com gentileza para o que eu tinha, descobri que, de verdade, há muito mais a agradecer do que a pedir."

Ana Jácomo