O Não Soneto
E a poesia que eu tecia com a mais bela linha de ternura
Foi descosturada pela frieza das tuas mãos.
O futuro abortado no presente sem cor
Encheu o peito alegre de desesperança e dor.
A ausência das rimas de novembro enfriou o esperado verão,
E afastou o Bem-te-vi, que faminto desejava o jardim,
E fazia da flor seu mais nobre querubim.
No fim desta estação, eu só quero cravar na pedra
As letras da palavra “esquecimento”.
E talhar na madeira, como uma artesã,
um riso escancarado de miudezas sem alento.
Dormir no chão da prosa com o não soneto,
um riso escancarado de miudezas sem alento.
Dormir no chão da prosa com o não soneto,
Deslembrando dos versos malemolentes da
primavera,
que fincados no concreto, rígidos se perderam.
Thai Pinheiro
Foto: Thaiane Pinheiro