Ser
Os respingos da chuva de ontem
ainda permanecem no vidro embaçado,
a janela é a mesma,
as margaridas também.
Antigamente, havia árvores
de caules verde sumo,
mergulhadas num capim
rasteiro e bordadas
por flores desbotadas
de coração amarelo.
Hoje, um girassol ávido por chuva
engana-se em meio
aos escombros da casa antiga,
enquanto as margaridas
amargas riem da vida.
E, eu ali, juntando retalhos,
costurando o passado,
invejando o girassol
que cresce na terra de sal.
Vivo, tateando na penumbra
do agora, que sem piedade
brota, despetalando-me.
Ser, é mesmo, para os fortes.
Thai Pinheiro