terça-feira, 28 de fevereiro de 2017


Cavei os sete palmos.
Com as mãos, 
sem piedade,
tirei cada punhado de terra,
não impliquei nenhum pesar.

Cavei os sete palmos.
E coloquei todos os teus rastros
guardados entre laços e nós,
sem deixar vestígios,
tornei-me coveiro de memórias.

Cavei os sete palmos.
Talhei, como artesã, calmamente, a tua cruz,
soterrando cheiros, miragens e
desejos minguados de saliva e sal.

Cavei os sete palmos.
Construí a tua lápide,
sem murmúrio, sem alarde,
joguei aos corvos todas as chaves,
as quais o teu túmulo pudesse violar.

Cavei os sete palmos.
Não resmunguei nenhum poema,
não vesti lágrimas ou dor,
apenas, como o derradeiro gesto,
espalhei amarílis 
para enfeitar, murchar e deslembrar tua morada.

Thai Pinheiro


Foto: Google Imagens



terça-feira, 7 de fevereiro de 2017




O que seria 1 mês para um coração,
que só aprendeu sobre o idioma do mar
e vibra em meio as águas profundas?
Poderia ser 30 dias de puro mergulho ou,
aproximadamente, 703 horas
talhadas em desejos de versos e sol.

O que seria 1 mês para um coração 
deseducado, crescido em precipícios?
43800 minutos desenhando futuros e
alimentando a barriga dos sonhos.

- Mas, então, ela repetiu:
O que seria 1 mês para um coração sem ampulheta,
que pouco sabe sobre os devaneios do tempo?
Talvez, uns milhares de segundos banhados com língua e sal,
ou olhos piscando, a fio, cegos pelo encanto. 

- E eu, ali, perdido em inestimáveis cálculos, depreendi:
Uma quase finitude de números,
um tanto exatos em si,
mas que não fecham a conta de 'nós', 
e ela retrucou:
-Meu relógio de (im)pulso nasceu desregulado,
não há matemática que alcance, vive de infinitos.

Thai Pinheiro

Google Imagens