Cavei os sete palmos.
Com as mãos,
sem piedade,
tirei cada punhado de terra,
não impliquei nenhum pesar.
Cavei os sete palmos.
E coloquei todos os teus rastros
guardados entre laços e nós,
sem deixar vestígios,
tornei-me coveiro de memórias.
Cavei os sete palmos.
Talhei, como artesã, calmamente, a tua cruz,
soterrando cheiros, miragens e
desejos minguados de saliva e sal.
desejos minguados de saliva e sal.
Cavei os sete palmos.
Construí a tua lápide,
sem murmúrio, sem alarde,
joguei aos corvos todas as chaves,
as quais o teu túmulo pudesse violar.
Cavei os sete palmos.
Não resmunguei nenhum poema,
Não resmunguei nenhum poema,
não vesti lágrimas ou dor,
apenas, como o derradeiro gesto,
espalhei amarílis
espalhei amarílis
para enfeitar, murchar e deslembrar tua morada.
Thai Pinheiro
Foto: Google Imagens