domingo, 21 de janeiro de 2018




Eu vi um passarinho,
sem rimas e em desalinho,
cantando miudinho
versos que alumbram flor.

Seu assobio suave
lembra uma tarde na rede,
cheia de sede, 
mas sem urgência, nem tempo a saciar.

Eu vi um passarinho,
pousando num ninho
trançado sobre uma árvore de sol,
enraizada num terreno regado a infinitos.

Seu cheiro tem essência
adocicada com pimenta,
que deixa na pele, a cada toque,
um rastro embebido em vontade de ficar, morar...

Eu vi um passarinho,
e meus olhos salivaram em encanto,
pois não imaginavam, no deserto, tal miragem avistar.

Ele tem nome de rei
e como se impusesse uma lei,
fez o meu coração noviço
em solavancos e arrepios transbordar.

Eu vi um passarinho,
acordando a primavera
e abrindo a boca do verbo sentir,
em dentes, gostos, gestos e risos.


Thai Pinheiro


Foto: Thaiane Pinheiro 








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