segunda-feira, 16 de outubro de 2017




Dorme, menina, dorme...
pois, lá fora, as pipas não tocam o céu
e o gosto doce da manga polpuda
já não enche a boca da tarde de saliva e sol.

Dorme, menina, dorme...
há olhos para todos os lados,
que veem sorrisos de mármore moldurados por flashs,
mas não enxergarão todos os muros acinzentados,
tampouco o teu alegrar e lacrimejar na aurora.

Dorme, menina, dorme...
as horas do verão estão chegando apressadas,
mas esse seu coração noviço e desencantado
não se precipitará, pois sabe bem das bocas que beijam,
das palavras vans que elas sussurram,
dos toques sem arrepios, que não valerão o teu vintém.

Dorme, menina, dorme...
Os poetas são os únicos que falam a verdade, cheios de dor,
eles estão com os ombros pesados e as mãos trêmulas,
pois o fardo do mundo corrói, pelas beiradas, os seus versos de afeto.

Dorme, menina, dorme...
deixe para despertar em agosto,
talvez, o gosto das coisas tenham sal,
o cheiro não te confunda e
saciem os dias famintos de sentir.

Dorme, menina...
desapressa esse pulsar,
guarda esse riso bobo e esses abraços,
espere pelas atrevidas flores do inverno,
elas desaprenderam sobre as impossibilidades,
sabem o idioma do frio, certamente, irão te ensinar.

Thai Pinheiro

Foto: Thaiane Pinheiro

2 comentários: