terça-feira, 28 de fevereiro de 2017


Cavei os sete palmos.
Com as mãos, 
sem piedade,
tirei cada punhado de terra,
não impliquei nenhum pesar.

Cavei os sete palmos.
E coloquei todos os teus rastros
guardados entre laços e nós,
sem deixar vestígios,
tornei-me coveiro de memórias.

Cavei os sete palmos.
Talhei, como artesã, calmamente, a tua cruz,
soterrando cheiros, miragens e
desejos minguados de saliva e sal.

Cavei os sete palmos.
Construí a tua lápide,
sem murmúrio, sem alarde,
joguei aos corvos todas as chaves,
as quais o teu túmulo pudesse violar.

Cavei os sete palmos.
Não resmunguei nenhum poema,
não vesti lágrimas ou dor,
apenas, como o derradeiro gesto,
espalhei amarílis 
para enfeitar, murchar e deslembrar tua morada.

Thai Pinheiro


Foto: Google Imagens



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